quarta-feira, 28 de maio de 2014

A melhor prenda de anos

(gracias a la vida que me ha dado tanto…)



Hoje, no final do dia, o meu amor inicia a longa viagem que o vai trazer de volta para mim. E essa é a melhor prenda de anos que eu podia desejar… tê-lo lá longe a preparar o regresso a casa. A uma nova casa. A um novo começo.

Estes dois últimos meses foram de sonho. Apesar de vivermos os quatro amontoados num T1, cão, coelho, porquinho-da-índia e hamster incluídos. Que fazem um barulho desgraçado à noite, diga-se em abono da verdade. Apesar de dormirmos numa cama de solteiro que também faz as vezes de sofá. E que está meia partida. Apesar das dificuldades financeiras. Apesar de todo o trabalho que fizemos juntos em prol da biblioteca da Apem ter desaparecido por magia. Apesar de o meu corpo ter dado o grito do Ipiranga e estarmos com medo. Apesar de termos dois rapazes com níveis de exigência diferentes constantemente a pedir atenção. Que fazem barulho, gritam, discutem, insultam-se, andam à luta. Que por vezes nos fazem ter vontade de mandar isto tudo pelos ares e partir à aventura. Apesar da raiva crescente que sentimos por certas situações ignóbeis se manterem. Apesar de não fazermos a mínima ideia de como vamos conciliar a sua ânsia de partir com a minha vontade férrea de ficar. Apesar de nem sempre conseguir retribuir os abraços porque os meus ombros falham. Apesar de Malempré não ter sequer uma padaria e termos de dividir o carro. Apesar de eu ter descoberto que gosto de viver sozinha e de ele nunca ter vivido com outra pessoa. Apesar de ambos termos o nosso grain de folie. E de nos agarrarmos à nossa liberdade como tábua de salvação.

Apesar de tudo isto – dizia eu – os últimos dois meses foram dos mais felizes da minha vida. Graças à sua presença. Porque o meu amor transforma tudo. Viver com ele é algo absolutamente extraordinário. Ele enche as nossas vidas, que tinham tudo para serem banais, de aventura. Esta semana, foi num pulinho a Itália fazer as malas e entregar as chaves da casa, mas deixou-me um copo no parapeito da janela com uma substância estranha qualquer, onde supostamente estão a formar-se cristais. Porque o meu amor faz magia.

E redescubro o mesmo sentimento que me invadiu quando os meus filhos nasceram. Sinto-me grata. Imensamente grata. E um bocadinho incrédula também. A primeira coisa que faço quando acordo é olhar para ele. Tenho vontade de o encher de beijos, de festinhas, de dizer baixinho que o amo. De o mimar. De estar atenta às suas necessidades. De cuidar dele. De o encher de prendas. Coisas parvas, sem importância. Um poema. Um chocolate. Um café quando está concentrado a trabalhar. O medicamento para a rinite que se esquece sempre de comprar. É uma vontade de estar presente para o outro, à escuta no meio dos seus silêncios. De andar de mão dada. Eu, que nunca gostei de andar de mão dada. Mas é assim que estamos sempre, já percorremos muitos milhares de quilómetros de mão dada. E sonhamos percorrer outros tantos. Porque o caminho tem sido tão doce!

Hoje faço 38 anos. Recebi a melhor prenda de sempre. E só há uma música que me vem à memória.


[ Obrigada também aos meus filhos. Sempre. Ao Diogo que gastou a sua mesada para comprar um livro de culinária do Jamie Oliver, que teve o cuidado de me vir oferecer à meia-noite exacta. Ao Vasco que decidiu que há imensas coisas grátis que me pode oferecer, como por exemplo uma massagem. ]


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