(ou
da falta dela)
Será
que a complexidade linguística corresponde a conceitos mentais igualmente
complexos? Ou seja, será que o facto de conseguirmos exprimir conceitos mentais
mais elaborados significa que temos um desenvolvimento cognitivo mais complexo?
Não
páro de pensar nisto desde que o Vasco desabafou muito desiludido, quando me
viu à espera dele no portão da escola, que tinha esperança de ficar um
bocadinho sozinho em casa porque “estava a precisar de solidão”. A mãe que
estava ao meu lado, desatou a rir. Mas o filho dela, que está no 4º ano, não
percebeu e perguntou o que queria dizer solidão. A mãe lá lhe explicou e o
miúdo também se riu. “És mesmo estranho, Vasco!”, atirou.
A
ideia ficou a remoer-me a mente. Será que o miúdo de 10 anos, que não sabia o
que era a solidão, nunca sentiu essa necessidade e, por isso mesmo, desconhecia
o conceito? Ou, tendo já sentido essa necessidade, não tinha nome para lhe dar
porque desconhecia o conceito? Será possível sentir inteiramente uma coisa cuja
existência desconhecemos?
E,
pronto, eis a dúvida existencial que me tem atormentado o espírito.
[
Quanto ao Vasco, é evidente que a liberdade é uma cena que lhe assiste. Se me
pedissem para descrever a principal característica deste meu filho, diria que é
a sede de liberdade. Desde que nasceu, iniciou uma luta sem tréguas por esta necessidade
básica de ser livre. De ser diferente. De exercer a sua liberdade de escolha.
De fazer valer a sua liberdade de expressão. De exprimir a sua liberdade
corporal e artística. A luta, neste momento, é pelo direito à liberdade de
estar só. E eu, que fui uma criança independente, compreendo-o perfeitamente. O
problema é que o Vasco também sai a mim na capacidade de distracção. De
abstracção. E eu não lhe consigo explicar que, enquanto ele se perder em
pensamentos, não lhe posso dar mais liberdade… Com muita pena minha, que gosto
de incentivar a complexidade da coisa pequena. ]
Está provado que uma das razões por que os humanos são mais inteligentes do que os outros animais é pelo facto de racionalizarem a sua vida e terem desenvolvido a linguagem para se expressar e fixar o conhecimento. Há poucas coisas mais valiosas que possamos dar aos nossos filhos do que as palavras e as ideias que expressamos :)
ResponderEliminar(que bom que o Vasco gosta de se perder em pensamentos, isso também é óptimo - ainda que possa dar trabalho na preparação para os testes!)
No estudo, a coisa ainda vai... Não sei como, ele apanha tudo nas aulas e, depois, graças à sua memória de elefante, tem sempre muito boas notas. O pior é o resto, Gralha...
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