(à
custa de um disparate que me vai ficar caro às mãos do Dr. Sauvage)
Finalmente
realizei um sonho antigo. Um sonho que nasceu estava eu ainda grávida do Diogo.
Porque há mães ambiciosas. Mães que sonham com filhos bem sucedidos. Filhos inteligentíssimos
em Harvard. Filhos que comovem na Orquestra Filarmónica de Viena. Filhos que
recebem a Palma de Ouro em Cannes. Ou que voam em cima de um palco, no Bolshoi
de Moscovo.
Eu
cá sonhava que o meu filho andava a galope pelos campos a rir. Pronto… no auge
do meu sonho, o meu filho ganhava uma competição numa modalidade qualquer de Equitação
nos Jogos Olímpicos. Coisa poucochinha, como podem ver. Que eu sou uma mãe de
sonhos modestos.
Mas
a verdade é que só tive de esperar 13 anos para realizar este meu sonho.
Tirando aquele pequeno detalhe dos Jogos Olímpicos, porque fica fora de mão ter
um filho a viver num centro para desportistas de alta-competição. E apenas por
isso, nada a ver com o facto de ter um miúdo que não tem fibra de desportista.
No
sábado de manhã, os rapazes tiveram aula de equitação com a Myriam. Normalmente,
as aulas consistem em curtos passeios pelos bosques ou pelas ruas de Malempré. A
Myriam segue a pé ao lado deles e vai dando instruções durante o percurso. O
Diogo já se desenrasca muito bem sozinho em diferentes cavalos. O Vasco é uma
desgraça… Fala, fala, fala. Canta, canta, canta. Distrai-se e larga as rédeas.
Ou lembra-se de se virar de repente. De se debruçar para arrancar uma flor. De bater
no pescoço do bicho para sacudir furiosamente uma mosca. Por isso, a pobre
Myriam vai sempre em sobressalto colada à coisa pequena, com o cavalo pelas
rédeas. E olhos de lince. E uma paciência de santa. Eu pisgo-me para casa de
uma vizinha mal os apanho a todos distraídos. Bebo calmamente um café e, como quem
não quer a coisa, apanho-os pouco antes de voltarem para os estábulos.
Este
fim-de-semana estava bom tempo, o campo estava bem seco. Como estavam só os
dois, a Myriam aproveitou para fazer uma aula no prado onde os cavalos estão
durante o dia. Pediu-me para dar aula ao Vasco, enquanto aproveitava para
iniciar o Diogo ao galope. E eu fiquei tão surpreendida por o tal momento ter
chegado que disse logo que sim, sem pensar no que tenho sofrido nas últimas semanas às mãos do Dr. Sauvage para me pôr os ombros no lugar. Mandei o Diogo ir a correr ao carro buscar a
máquina fotográfica para registar o momento… mas percebi que há momentos que
não se registam. Porque a máquina não ia apanhar o riso de espanto dele. Os
olhos a brilhar. O corpo tão bem posicionado. O balançar compassado. Nem a voz de encorajamento da
Myriam. Ou o meu coração a bater descompassado. O tom meloso com que o Vasco me
tentou convencer a passar do trote ao galope para poder imitar o irmão. O
relincho do Picasso que ficou amarrado no estábulo, quando ouviu o Zorro a
galopar velozmente no prado. Um cavalo a galopar num campo sem fim é um animal bem treinado, que tem de obedecer à mão de um cavaleiro experiente. Não é como seguir o movimento do cavalo da frente numa aula dada a granel num picadeiro fechado. Por isso, foi tão bom esperar.
Ficaram
as fotos do antes e do depois. O durante, não. O galope com que sonhei durante
tantos anos ficou gravado apenas na minha memória de mãe. De mãe babada. De mãe
realizada. De mãe feliz. Vi o meu filho à gargalhada a andar a galope num prado florido.
Ter o coração assim tão cheio relaxa bem os músculos do sorriso, bem que podia fazer o mesmo pelos teus ombros :)
ResponderEliminarIsso era outro sonho tornado realidade, Gralha! Mas não me cheira...
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