(e
um friozinho no estômago)
Sempre
tive uma teoria muito pessoal em relação ao cancro. Pode parecer disparatada,
mas é o que eu penso. Além de todas as causas de saúde que lhe estão
naturalmente subjacentes, acho que o cancro é a forma que o corpo tem de dizer
que não consegue continuar a lutar contra uma situação que nos ultrapassa. Ou
contra algo que nos é prejudicial. Acredito que o facto
de aceitarmos em silêncio uma situação que se tornou insustentável pode abrir
caminho ao cancro. Porque nos vai corroendo. Moendo. Destruindo por dentro. O
cancro é o limite que o corpo impõe ao cérebro.
O
vírus do papiloma humano (HPV) possui mais de 180 serotipos diferentes. Os
tipos 6, 11, 16 e 18 causam grande parte das doenças genitais, incluindo o
cancro do colo do útero. Na maioria dos casos, a infecção pelo HPV não
apresenta sintomas. Contudo, em determinadas situações, como numa fase de maior
stress em que ocorre imunossupressão, o vírus pode desenvolver-se. A verdade é
que o HPV pode estar presente durante alguns anos no colo do útero sem se
manifestar, mas pode igualmente provocar lesões pré-malignas que tendem a
evoluir para cancro se não forem tratadas. As lesões pré-cancerosas recebem
várias denominações consoante as características, tradicionalmente designadas
por displasias. As lesões observáveis por citologia ou biopsia são
categorizadas em três estádios, que vão desde CIN-I (displasia ligeira) a CIN-III
(carcinoma ‘’in situ’’). Não existe nenhum tratamento que elimine o vírus,
apenas se pode reforçar o sistema imunitário da pessoa infectada. Só a remoção
do tecido anormal pode efectivamente prevenir que as células pré-cancerosas e cancerosas
evoluam para um cancro invasivo. Uma maior extensão da displasia acarreta um
pior prognóstico, pelo que quanto mais cedo for feito o diagnóstico, melhores
são as hipóteses de que as lesões sejam controladas com tratamento.
Há
uns meses atrás, decidi-me finalmente a substituir a minha querida Dra.
Madalena, que me acompanhou desde a adolescência e que gostava de ver as
fotografias dos meninos quando eu ia à consulta. Que me chamava “minha querida”
e que chorou quando tirou um Diogo quase sem batimentos cardíacos de dentro de
mim. Mas hemorragias constantes forçaram-me a procurar um ginecologista na
Bélgica. Descobri, então, que as duas cesarianas de urgência a que fui
submetida deixaram sequelas. E das grandes. Iniciei um tratamento que, caso não
dê resultado, terá um desfecho mais radical, que passará por uma cirurgia
reconstrutiva. Nessa altura, fiz todos exames de rotina sem me preocupar muito.
Até que recebi uma carta do médico a pedir para marcar uma consulta de
urgência. E fiquei assustada. Até porque nessa altura já andava às voltas com o
meu problema da tendinite e da artrose nos ombros. Que diabo se viria juntar a isto tudo?! Ehhh… uma variante cancerígena do vírus
do papiloma humano, ainda num estádio de displasia ligeira.
O
primeiro especialista que consultei – chamemos-lhe o Dr. Pessimista – era da
opinião que, tendo em conta o outro problema, devíamos fazer já uma cirurgia
para retirar o útero. Segundo ele, mesmo que o vírus desapareça, pode reactivar-se
a qualquer momento e desenvolver-se depressa num terreno imunológico
propício. Melhor seria não arriscar. O segundo especialista que consultei – chamemos-lhe o Dr. Optimista – pensa
que o meu sistema imunitário tem 50% de hipóteses de eliminar o vírus e que
vale a pena esperar três meses. Até porque ele está convencido de que o problema
inicial também irá responder bem ao tratamento nesse espaço de tempo. Caso contrário, avançamos de
imediato para uma cirurgia onde se tentará extrair apenas a zona do colo uterino
onde a lesão se evidencia. Escolhi seguir o Dr. Optimista, obviamente.
E quero acreditar que, se há 50% de hipóteses, eu estarei no grupo do copo meio
cheio.
Aconteça
o que acontecer, passarei a ser visita assídua do Dr. Optimista. Homem muitooooo agradável à vista, que transmite uma onda de calma e segurança. Assim como assim, sempre ajuda. O seu único defeito é ter a mania de fazer umas estranhas pausas para se
pôr a falar das iguarias que comeu nas diferentes visitas que fez a
Portugal. O facto de as consultas serem quase sempre na minha hora do almoço dá um empurrãozinho. Eu sou um bom garfo e adoro discussões gastronómicas. A descrição de
um robalo em crosta de sal aromático é coisa para me deixar a sonhar durante
horas. Claro que ficaria mais satisfeita se pudesse trocar receitas sem estar
despida e deitada numa marquesa de pés ao alto. Não é por nada, mas é uma posição um bocadinho desconfortável.
Compreendo bem o friozinho. Há vários anos atrás descobri que tinha HPV e lesões pré-cancerígenas. Fiz algumas séries de tratamentos por colposcopia e, felizmente, deram-me alta ao fim de um ano. Desde então, faço apenas o Papanicolau anual de controlo.
ResponderEliminarAquilo que desejo é que, também contigo, tudo não passe de um susto e que os tratamentos corram o melhor possível. É mesmo muito importante, sobretudo nestas circunstâncias, ter um médico em quem confiemos. E a compreensão e apoio do nosso parceiro, claro Um abraço!
Se não te importares, gostaria de saber melhor em que consistiu esse teu tratamento, Gralha. Escrevi-te para o e-mail do teu blog. :)
ResponderEliminarTambém há vários anos descobri que me tinha calhado em sorte o HPV, com condilomas pré uretrais. Foi um insuportável esforço físico e mental, com enormes picos de stress a envolverem uma formação com "guerrinhas" pelo meio com os formadores que me levaram a um diagnóstico que, para muitos na altura, estaria ligado a comportamentos sexuais menos correctos...Descobri pouco tempo depois, ligando certas respostas do meu corpo e fazendo uma biópsia, que tenho Síndrome de sjögren e que a falta de imunidade do meu organismo explica muita coisa...Fui tratada no Hospital de Santa Maria com laser, com uma recuperação de cerca de 2 meses. Também faço o teste Papanicolau todos os anos (com um friozinho também...). Um abraço e rápidas melhoras!
ResponderEliminarInfelizmente, também tive de ouvir insinuações sobre "parceiros sexuais", Mariana B. :( Engraçado, que os homens são o veículo de transmissão por excelência e ninguém se lembra de os acusar de libertinagem! De qualquer modo, há vários modos de transmissão do HPV...
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