(por esta altura, a minha vizinha já pensa
que viemos de Eldorado do Sul, lá nos
confins do Brasil)
Um
belo dia de sol, em pleno Inverno, não pode ser encarado com ligeireza. Em
estando um ventinho bom, talvez até dê para secar uma máquina de roupa no
quintal. Vá… para secá-la e congelá-la ao mesmo tempo, num estranho efeito
físico que me ultrapassou. Confesso que foi bastante complicado enfiar pilhas
calças de gangas congeladas no cesto da roupa. Já as cuecas e as meias petrificadas
foi bastante fácil. Até foi engraçado fazer tiro ao alvo para dentro do cesto.
A vizinha observava-me da janela. Acenei-lhe e gritei que a vantagem é que,
assim que descongelasse, já estava tudo passado a ferro. Ela limitou-se a
abanar a cabeça, parece-me – mas não quero ser má-língua – com um ar um pouco
desgostoso.
No
final do dia, saio para ir buscar o Vasco à escola. De manhã, foi o meu amor
que o levou e não voltámos a mexer no carro. Olho à minha volta, com a espátula
na mão, a tentar perceber qual daquelas montanhas de neve é o Twingo.
Felizmente, há apenas três carros parados à porta. Um parece-me demasiado
grande. Sobram dois. Ambos pequenos. Decido começar a limpar um deles. A minha
vizinha sai nesse momento para passear os cães. Olha para mim, incrédula.
Diz-me que o meu carro é vermelho. Que o carro que eu estou a limpar é branco. Hum… cobertos de neve, parecem-me os dois
brancos. “Não quando já chegou à chapa. Não vale a pena limpar mais, esse carro
é mesmo branco. E não é o seu.” Largo o carro branco-mas-não-da-neve e
dirijo-me ao outro. Pelos vistos, o meu. “Quando for assim, basta destrancar as
portas carregando na chave. O carro que apitar é o seu. Ou pô-lo na garagem,
que é para isso que ela serve.” E foi-se embora, a abanar a cabeça, parece-me –
mas não quero ser má-língua – com um ar um pouco desgostoso.
Acho
que lhe vou oferecer mais uma garrafa de vinho do Porto.
Ahh, que saudades da neve. Mas isso sou eu, que sou arraçada de trabalhadora braçal.
ResponderEliminarLouca! ;)
ResponderEliminarMas estão todos convidados a fazer-nos uma visita, quando quiserem. Não precisam de se despachar a comprar bilhetes, esta porcaria branca está de pedra e cal.
Ri-te à vontade, também tenho rido muito de mim própria à conta destas peripécias... :D
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