(onde se apresentam os dois novos habitantes desta casa)
No Verão, o meu amor prometeu um passarinho ao Vasco como
prenda de passagem de ano. Foi uma daquelas promessas que ele fez porque não
percebe nada disto e se deixa facilmente endrominar na minha ausência. Vá… e
porque gosta tanto de bicharada como a coisa pequena. Mas eu, que já ando a
virar frangos há quase 14 anos, achei que o desgraçado do animal arriscava-se a
morrer de ataque cardíaco. Se ficasse no andar de baixo, o feroz cão de caça
dava cabo dele. Se ficasse no quarto do Vasco, a chinfrineira dava cabo dele. E
rapidamente, troquei a promessa do passarinho por duas belas tartarugas. A
coisa pequena ficou toda encantada e acabou-se a conversa. Claro que o encantamento
acabou assim que percebeu que as tartarugas não são um animal muito… Como
dizer? Interactivo. Diria mesmo, inerte. Seja como for, continuam vivas e de
boa saúde. O que é um verdadeiro milagre, tendo em conta que estão -5º lá fora
e que o aquário não é aquecido (e, por enquanto, os nossos quartos também não).
Entretanto, o Vasco foi ao otorrino. Era suposto ser
apenas uma consulta de rotina, só para preencher o requerimento a autorizar a
terapia da fala gratuita. Pois… Que se via que era um rapaz cheio de vida. Que
de certeza que andava no futebol. Que devia gritar imenso nos jogos e na escola
e em casa. Hum… duvido que grite no ballet, mas em casa e na escola
confirma-se. Ah… e aquilo de ter muita vida também. Embora nunca tenha achado
que isso fosse um problema, não gosto de filhos-tartaruga. Enfim, fosse como
fosse, é verdade que o Vasco está sempre rouco. Diagnóstico: vários nódulos nas
cordas vocais. Motivo: gritaria constante. Tratamento: parar de gritar.
Possíveis consequências a longo-termo: voz de bagaço crónica.
Tentámos tudo. Explicar calmamente a situação. Explicar
menos calmamente a situação. Explicar sem calma rigorosamente nenhuma a
situação. Castigo. Reforço positivo. Explicar novamente a situação. Até que
desistimos.
A história podia ter acabado aqui, não fosse eu uma mãe
bastante teimosa engenhosa. Vai daí, lembrei-me que o tal passarinho
talvez não fosse uma má ideia, tendo em conta a situação actual. Explicámos bem
ao Vasco que podia ter um pássaro se prometesse não gritar, nem falar alto
no quarto, para não o assustar. Promessa feita, no Natal oferecemos-lhe um
cartão-cheque de 50 euros do Tom&Co, a nossa loja de animais preferida. A
ideia também era obrigá-lo a gerir o orçamento, para comprar o animal, a gaiola
e a comida. Uns dias antes, ainda apanhei um susto. Disse-me que tinha feito
bem as contas e que, afinal, era muito mais vantajoso comprar animais para os
quais já tivéssemos gaiola. Que sempre economizava, eliminando da equação o
custo mais elevado. Que com 50 euros podia trazer um hamster anão, um coelho e
um gerbilo. Fiquei tão impressionada com a destreza contabilística que até me engasguei.
Mas, depois, disse claramente que não. Era o que mais faltava. A cota de
animais roedores nesta casa já foi largamente ultrapassada. E eu quero mesmo
que o Vasco pare de gritar, pelo menos, em casa.
No domingo, lá fomos nós ao Luxemburgo, ao Tom&Co.
Desta vez, até o adolescente rezingão quis ir, para dizer de sua justiça.
Deixei-os na zona dos pássaros e fui comprar comida para o resto da bicharada.
Quando voltei, estavam as três almas completamente apaixonadas por um periquito
azul todo bexigoso e pulguento, gordo como um papagaio. Impunha-se uma solução
urgente. Bati com os olhos num periquito amoroso, todo branquinho, que estava a
dar beijinhos a outro. Ora ali estava o candidato ideal! Deixei os três a
apaixonarem-se novamente e fui à procura de uma gaiola em conta. Quando voltei,
verifiquei estupefacta que se tinham apaixonado em demasia. E que o meu amor já
tinha dito que podíamos trazer o casal de pássaros apaixonados. À conta do
romantismo masculino, viemos para casa com dois piriquitos, uma gaiola bem
maior do que inicialmente previsto, areia para pôr no fundo, comida, barras de
cereais e mais uma catrefada de merdas que ainda não sei muito bem para que
servem. Evidentemente que o cartão de 50 euros não deu para pagar a totalidade
do estrago e tive de entregar um outro cartão, da minha conta bancária,
evidentemente.
E aqui estamos... O Vasco nunca mais se ouviu. O Diogo,
infelizmente, ouve-se bastante, porque passa o dia a assobiar numa tentativa de
comunicar com os bichos. O meu amor sorri parvamente, enquanto trabalha no seu
computador, porque acha o piar dos pássaros relaxante. E eu… eu estou em
stress. Não consigo ver pássaros fechados numa gaiola. Dá-me dó de alma. Apesar
de parecerem muito felizes e bem adaptados ao novo ambiente. Continuam
apaixonadíssimos um pelo outro e passam o dia colados, aos beijinhos. (Espero
sinceramente que seja um amor homossexual, que eu não quero cá mais pássaros em
casa.) Entretanto, apesar do trabalho, das aulas e do livro que tenho de
traduzir até ao final do mês, passo os meus dias na Net. A tentar perceber como
se domesticam periquitos. Já vi dezenas de vídeos no YouTube, já li
imensos artigos. Já fiz tudo o que era suposto e nada. A porcaria dos bichos
continuam agarrados um ao outro, não me ligam nenhuma. Eu, que só queria que
pousassem no meu dedo para os poder tirar da gaiola, para os poder deixar andar
em liberdade durante o dia. E, já agora, para os poder voltar a pôr na gaiola,
à noite. É que faz mesmo confusão vê-los ali fechados. Até agora, a pessoa que
tem passado mais tempo com os passarinhos sou eu, claro. Como, aliás, acontece
com o resto da bicharada. Tantos anos a virar frangos e ainda não aprendi que
sobra sempre para mim…
Fico abananada com estes teus posts. Vou só ali enrolar-me numa bola. Como é que não elouqueces com tanta confusão, mulher?
ResponderEliminarComo é que não enlouqueço, Gralha? Porque já sou meia doida mesmo! :)
ResponderEliminarEstou com a Gralha! Como é que é possível?! O máximo que tive em casa (ainda dos meus pais) foram um cão, uma gata e um aquário com peixes, hoje em dia seria impensável me meter numa coisa assim.
ResponderEliminarÉs uma maravilha!! :)
Bom, tenho de admitir que a casa é bastante grande. Parecendo que não, ajuda muito. Tanta bicharada num apartamento seria impossível. O coelho está numa casinha no quintal, por exemplo. O nosso cão só vai à rua uma vez por dia, de resto fica-se pelo quintal. O resto dos bichos estão a salvo no quarto do Vasco, que é gigantesco.
ResponderEliminarMas, se não for em casa dos pais que se tem um jardim zoológico, onde será?! ;)