quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Métodos pouco ortodoxos

(onde se apresentam os dois novos habitantes desta casa)


 
No Verão, o meu amor prometeu um passarinho ao Vasco como prenda de passagem de ano. Foi uma daquelas promessas que ele fez porque não percebe nada disto e se deixa facilmente endrominar na minha ausência. Vá… e porque gosta tanto de bicharada como a coisa pequena. Mas eu, que já ando a virar frangos há quase 14 anos, achei que o desgraçado do animal arriscava-se a morrer de ataque cardíaco. Se ficasse no andar de baixo, o feroz cão de caça dava cabo dele. Se ficasse no quarto do Vasco, a chinfrineira dava cabo dele. E rapidamente, troquei a promessa do passarinho por duas belas tartarugas. A coisa pequena ficou toda encantada e acabou-se a conversa. Claro que o encantamento acabou assim que percebeu que as tartarugas não são um animal muito… Como dizer? Interactivo. Diria mesmo, inerte. Seja como for, continuam vivas e de boa saúde. O que é um verdadeiro milagre, tendo em conta que estão -5º lá fora e que o aquário não é aquecido (e, por enquanto, os nossos quartos também não).

Entretanto, o Vasco foi ao otorrino. Era suposto ser apenas uma consulta de rotina, só para preencher o requerimento a autorizar a terapia da fala gratuita. Pois… Que se via que era um rapaz cheio de vida. Que de certeza que andava no futebol. Que devia gritar imenso nos jogos e na escola e em casa. Hum… duvido que grite no ballet, mas em casa e na escola confirma-se. Ah… e aquilo de ter muita vida também. Embora nunca tenha achado que isso fosse um problema, não gosto de filhos-tartaruga. Enfim, fosse como fosse, é verdade que o Vasco está sempre rouco. Diagnóstico: vários nódulos nas cordas vocais. Motivo: gritaria constante. Tratamento: parar de gritar. Possíveis consequências a longo-termo: voz de bagaço crónica.

Tentámos tudo. Explicar calmamente a situação. Explicar menos calmamente a situação. Explicar sem calma rigorosamente nenhuma a situação. Castigo. Reforço positivo. Explicar novamente a situação. Até que desistimos.

A história podia ter acabado aqui, não fosse eu uma mãe bastante teimosa engenhosa. Vai daí, lembrei-me que o tal passarinho talvez não fosse uma má ideia, tendo em conta a situação actual. Explicámos bem ao Vasco que podia ter um pássaro se prometesse não gritar, nem falar alto no quarto, para não o assustar. Promessa feita, no Natal oferecemos-lhe um cartão-cheque de 50 euros do Tom&Co, a nossa loja de animais preferida. A ideia também era obrigá-lo a gerir o orçamento, para comprar o animal, a gaiola e a comida. Uns dias antes, ainda apanhei um susto. Disse-me que tinha feito bem as contas e que, afinal, era muito mais vantajoso comprar animais para os quais já tivéssemos gaiola. Que sempre economizava, eliminando da equação o custo mais elevado. Que com 50 euros podia trazer um hamster anão, um coelho e um gerbilo. Fiquei tão impressionada com a destreza contabilística que até me engasguei. Mas, depois, disse claramente que não. Era o que mais faltava. A cota de animais roedores nesta casa já foi largamente ultrapassada. E eu quero mesmo que o Vasco pare de gritar, pelo menos, em casa.

No domingo, lá fomos nós ao Luxemburgo, ao Tom&Co. Desta vez, até o adolescente rezingão quis ir, para dizer de sua justiça. Deixei-os na zona dos pássaros e fui comprar comida para o resto da bicharada. Quando voltei, estavam as três almas completamente apaixonadas por um periquito azul todo bexigoso e pulguento, gordo como um papagaio. Impunha-se uma solução urgente. Bati com os olhos num periquito amoroso, todo branquinho, que estava a dar beijinhos a outro. Ora ali estava o candidato ideal! Deixei os três a apaixonarem-se novamente e fui à procura de uma gaiola em conta. Quando voltei, verifiquei estupefacta que se tinham apaixonado em demasia. E que o meu amor já tinha dito que podíamos trazer o casal de pássaros apaixonados. À conta do romantismo masculino, viemos para casa com dois piriquitos, uma gaiola bem maior do que inicialmente previsto, areia para pôr no fundo, comida, barras de cereais e mais uma catrefada de merdas que ainda não sei muito bem para que servem. Evidentemente que o cartão de 50 euros não deu para pagar a totalidade do estrago e tive de entregar um outro cartão, da minha conta bancária, evidentemente.

E aqui estamos... O Vasco nunca mais se ouviu. O Diogo, infelizmente, ouve-se bastante, porque passa o dia a assobiar numa tentativa de comunicar com os bichos. O meu amor sorri parvamente, enquanto trabalha no seu computador, porque acha o piar dos pássaros relaxante. E eu… eu estou em stress. Não consigo ver pássaros fechados numa gaiola. Dá-me dó de alma. Apesar de parecerem muito felizes e bem adaptados ao novo ambiente. Continuam apaixonadíssimos um pelo outro e passam o dia colados, aos beijinhos. (Espero sinceramente que seja um amor homossexual, que eu não quero cá mais pássaros em casa.) Entretanto, apesar do trabalho, das aulas e do livro que tenho de traduzir até ao final do mês, passo os meus dias na Net. A tentar perceber como se domesticam periquitos. Já vi dezenas de vídeos no YouTube, já li imensos artigos. Já fiz tudo o que era suposto e nada. A porcaria dos bichos continuam agarrados um ao outro, não me ligam nenhuma. Eu, que só queria que pousassem no meu dedo para os poder tirar da gaiola, para os poder deixar andar em liberdade durante o dia. E, já agora, para os poder voltar a pôr na gaiola, à noite. É que faz mesmo confusão vê-los ali fechados. Até agora, a pessoa que tem passado mais tempo com os passarinhos sou eu, claro. Como, aliás, acontece com o resto da bicharada. Tantos anos a virar frangos e ainda não aprendi que sobra sempre para mim…



4 comentários:

  1. Fico abananada com estes teus posts. Vou só ali enrolar-me numa bola. Como é que não elouqueces com tanta confusão, mulher?

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  2. Como é que não enlouqueço, Gralha? Porque já sou meia doida mesmo! :)

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  3. Estou com a Gralha! Como é que é possível?! O máximo que tive em casa (ainda dos meus pais) foram um cão, uma gata e um aquário com peixes, hoje em dia seria impensável me meter numa coisa assim.
    És uma maravilha!! :)

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  4. Bom, tenho de admitir que a casa é bastante grande. Parecendo que não, ajuda muito. Tanta bicharada num apartamento seria impossível. O coelho está numa casinha no quintal, por exemplo. O nosso cão só vai à rua uma vez por dia, de resto fica-se pelo quintal. O resto dos bichos estão a salvo no quarto do Vasco, que é gigantesco.

    Mas, se não for em casa dos pais que se tem um jardim zoológico, onde será?! ;)

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