(“enquanto
houver estrada para andar, a gente vai continuar”)
Já
te dei tantas prendas. Eu gosto muito de dar prendas. Gosto de te dar prendas.
Nos dias certos, nos dias especiais, nos dias inesperados. Já te dei prendas despudoradamente
úteis. Umas calças de ganga. Lenços de pano. Luvas de lã. Prendas inusitadas. Uma
fotografia a sépia de uma biblioteca destruída na segunda Guerra Mundial. Prendas
inventadas por mim. Um candeeiro feito com um ramo perfeito que encontrei num
dos nossos passeios pelos bosques de Malempré. Prendas estranhas. Uma espécie
de tupperware em forma de pintainho para fazer ovos cozidos no micro-ondas, que
serviu de bibelot enquanto estiveste
em Itália porque não percebeste para que servia. Prendas que te deixaram
comovido. Quando te fiz um bolo de anos pelos teus 40 anos. Prendas que te
arrancaram uma gargalhada. A série completa de V. Prendas que demorei muito, muito tempo a encontrar. Uma tradução
bilingue de O Marinheiro, do Pessoa.
Hoje
calçaste as botas que te dei. Como tens feito todos os dias, desde que as
recebeste, espantado. Olhavas para mim e para a caixa. E para mim. Perguntaste:
“Compraste-me umas botas?” Respondi apenas que estava a nevar. E hoje, pelo
canto do olho, vi-te sorrir ao calçá-las. Percebi que estavas a pensar em mim.
E corei. Levantaste os olhos e apanhaste-me. Disseste: “Nunca me tinham
oferecido umas botas. Tu cuidas de mim. Sei que as escolheste especialmente para
mim. São tão confortáveis! E sempre que as calço penso que vamos fazer muitos
quilómetros juntos, tu e eu. Temos um caminho a percorrer.”
Ahhh... um dia também tenho de escrever um post sobre as prendas especiais que tenho recebido! ;)
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