(é
toda uma arte, minha gente)
Aqui
há uns tempos, o Vasco chegou a casa muito aflito com um papel que tinha
recebido na escola. Rezava assim:
Vasco, queres ser meu
namorado? Rodeia sim ou não e, depois, entrega-mo. Se quiseres dizer-me mais
alguma coisa, podes escrever também.
(a
pontuação é da minha autoria, que a menina além de dar muitos erros também
parece não gostar lá muito de sinais de pontuação.)
Perguntei-lhe
se ele gostava da menina. Olhou para mim com ar de vómito, a revirar os olhos. “Pronto,
então só tens de responder que ainda não estás interessado nessas coisas mas
que, se estivesses, ela seria certamente a escolhida.” “Mas isso é mentira, mãe!”.
Lá lhe expliquei que, às vezes, é preciso uma certa diplomacia para não magoar os
sentimentos das raparigas.
Dias
depois, ouvi-o suspirar. Que ainda tinha “aquele problema” por resolver.
Aconselhei-o a despachar-se a dar uma resposta para não criar falsas expectativas
à apaixonada.
Já
me tinha esquecido da história, quando fui buscar o Vasco à escola e sinto
alguém a puxar-me o casaco. “Olha lá, porque é que chamaste “vacheeecô” ao teu
filho?!” Era a apaixonada pespineta.
Lembrei-me, então,
de perguntar à coisa pequena pelos últimos desenvolvimentos. Que estava a dar um bocado
de trabalho, mas que estava a correr tudo bem. Que não a tinha magoado, nem
nada. Na verdade, nem sequer tinha chegado a dar-lhe uma resposta. Andava a
evitá-la para ver se ela se esquecia. “Andas a evitá-la?! Mas ela não é tua
colega de turma?” Pois, esse é exactamente o busílis da questão, não só a miúda
é da turma dele, como está sentada mesmo na carteira do lado. Mas ele estava
convicto de que andava a conseguir evitá-la muito bem.
Na
semana passada, o Diogo contou-me que um colega tinha perguntado se podia
vir dormir cá a casa este fim-de-semana. Sabendo o quanto ele detesta o miúdo em
questão, ri-me. “Bem te disse que ele embirra contigo por inveja. O que ele
queria mesmo era ser teu amigo.”
Lá
me explicou que estava fora de questão, mas que tinha tentado ser diplomata. Disse-lhe
que não era possível, porque na sexta-feira ia dormir a casa do Batiste. Mas o
outro insistia. “E no sábado?” No sábado, vinha o Batiste dormir cá a casa. “E
durante a semana?” Na segunda-feira, era a vez de o Sébastien vir dormir cá a
casa. “Então, no próximo fim-de-semana?” Também não ia dar, infelizmente. Já estava
combinado que o Théo vinha cá ficar na sexta-feira.
“Alto
lá! Eu não sabia dessa! Que história é essa do Théo?! Não estarás a exagerar um bocadinho? Isto mais parece uma pousada da juventude, pá...”
Largou a rir. Que era só para ver se pegava. Respondeu aquilo para se libertar
do outro chato, mas que já agora estava a ver se o último arranjo
pegava… diplomaticamente.
[
Entretanto, o Vasco decidiu tomar medidas mais drásticas em relação aos
pedidos de namoro. Quando troquei a mochila, no início deste período – não preciso
de dizer que a outra foi directamente para o lixo, pois não? – descobri vários
papelinhos com corações fechados com fita-cola e envelopes coloridos por abrir. Perguntei-lhe o
que raio era aquilo. “Não são meus, mãe! De certeza que são do Diogo, é melhor
não abrirmos!” ]
Fofinhos, pá!
ResponderEliminarOs teus filhos são diplomatas natos! A sério!! Digo eu que sou licenciada em Relações Internacionais com especialidade em Diplomacia. E lá aprendi que um bom diplomata é aquele que consegue dizer-te as coisas que quer sem nunca as pronunciar literalmente ;)
ResponderEliminarVou fiar-me na tua opinião avisada, Naná. Nunca vi uma definição tão boa para diplomacia! :)
ResponderEliminarNão pude deixar de colocar-me na situação da apaixonada pespineta. Se fosse comigo, com evitamento ou com uma resposta do género "ainda não estou preparado", ia andar o resto do 1º ciclo, 2º ciclo, eventualmente o resto da vida com esperança. Ah, espera, isso aconteceu mesmo comigo. Just saying. A diplomacia está mesmo muito sobrevalorizada
ResponderEliminarLOL, Gralha! Pronto, nunca mais lhe digo para dar respostas evasivas... ;)
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