(felizmente,
a reunião de pais resumiu-se a um único professor)
Professora: Estou muito satisfeita com o
resultado do Diogo nos exames de Natal, mas continuo preocupada… Daí ter pedido
para falar consigo.
Mãe: A sério? Viu bem as notas dele? Não
haverá aí um excesso de exigência da sua parte?
Professora: Sinceramente, acho que não. Durante
as semanas de estudo que antecederam o exame de matemática, notei que havia uma
série de lacunas nos conhecimentos de base.
Mãe: Hein?! Como por exemplo?
Professora: Erros básicos de aritmética e nas operações
de multiplicar, o Diogo ainda não domina bem a regra da prioridade de
operações, erros na resolução de fracções…
Mãe: E acha que ele é o único?! Isso são
erros menores, minha senhora. É mais distracção do que outra coisa.
Professora: Pois, compreendo que possa até ser um
problema típico da idade, mas isso não invalida o facto de o Diogo ter de ser
mais rigoroso! E o que me diz daquela letra hieroglífica?! Por vezes, engana-se
nas contas apenas porque de uma linha para a outra, um - transforma-se
milagrosamente num + …
Mãe: Olhe que eu até acho que ele tem
feito um esforço para melhorar a letra.
Professora: Acha?! Metade das vezes, a meio da
resolução do problema já não se percebe nada…
Mãe: Parece-me que está a ser derrotista.
Nestas idades temos de ser positivos. O Diogo precisa de ser incentivado, não
criticado.
Professora: Mas eu incentivo-o! Incentivo-o a
estudar para ser um bom aluno.
Mãe: Mas ele é um excelente aluno! É dos
melhores da turma. E já viu como ele é miúdo extremamente bem-educado?!
Professora: Mas ninguém diz o contrário! Sei bem
que o Diogo é um miúdo bem-educado. O problema não é esse…
Mãe: Sabe como isso é raro, na idade dele?
O Diogo não só é bem-educado, como tem uma excelente relação com os colegas.
Tem noção da influência positiva que ele tem na sala de aula?
Professora: Sim, claro…
Mãe: Ele é muito bom colega, sempre pronto
a ajudar os outros.
Professora: Pois, eu sei. E fico muito feliz por
isso…
Mãe: É que nestas idades, isso é raro!
O Diogo é um miúdo cativante. Inteligentíssimo.
Professora: Ouça, isso nunca esteve em causa. Eu
conheço perfeitamente o Diogo. A minha preocupação prende-se apenas com a
matemática. Quanto ao resto, não tenho quaisquer razões de queixa.
Mãe: Ah, bom! É que ele domina na
perfeição três línguas… Três! Já viu os livros de inglês que ele anda a ler? É
muito complicado…
Professora: Certo, mas talvez não seja muito
normal que ele leia os livros de inglês nas aulas de Matemática…
Mãe: Não se trata disso. É que nestas
idades é preciso ver a educação como um todo. Ter uma visão global das coisas.
Temos de nos interessar pela vida deles, partilhar os seus centros de
interesses, percebe?
Professora: Percebo, percebo. E tento fazer isso,
claro. Mas, olhe, voltando à matemática… Não acha que o Diogo podia continuar a
ter aulas de apoio só para consolidar os conhecimentos e manter o ritmo de
estudo que o levou a ter estes resultados tão bons nos exames? Se ele se deita
agora à sombra da bananeira, depois é mais difícil pô-lo na linha antes dos
próximos exames.
Mãe: Mas a senhora viu bem a nota que ele
teve no último teste?!
Professora: Vi, pois. E fiquei muito orgulhosa,
claro. Mostra bem o trabalho que ele tem feito em casa. Mas é preciso continuar
nessa linha, não? Em casa e na escola, temos de unir esforços…
Mãe: Olhe, tente ter mais confiança nas
capacidades do Diogo, sim? E seja mais positiva. Nestas idades, não vale a pena
apertar muito com eles. Só desmotiva. Esteja descansada, que ele está no bom
caminho. O Diogo é um miúdo esperto, dócil, tão agradável… Isso é o mais
importante, certo?
Professora: Certo…
Mãe: Pronto, então vá lá… Gostei muito
desta conversa. Sempre que quiser falar comigo, esteja à-vontade. Liga para cá
e pede para falar comigo, está bem? E muitos parabéns pelo trabalho que está a
fazer com o Diogo, é um miúdo extraordinário! Eu gosto imenso dele!
[
E tudo isto seria perfeitamente normal, não fosse dar-se o caso de eu ter feito
de professora e, a dita docente, ter feito de mãe. A clássica inversão dos
papéis do polícia bom e do polícia mau, portanto. ]
Desta vez topei-te logo no início :D
ResponderEliminarÓ pá... estou a ficar demeasiado previsível! ;)
ResponderEliminarIdem aspas!! :D
ResponderEliminarMau... olhem que eu ainda encaro isso como um desafio para contar uma história onde ninguém me tope! :)
ResponderEliminarPois eu também... até porque me vi perfeitamente nesse papel! :D
ResponderEliminarAh... haja alguém que me entende, ddm! ;)
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