(onde se apresenta o Bitoque e o Bifana)
Desde
que a Belle morreu que o Vasco andava a pedir outro animal. Eu concordei, mas
expliquei-lhe que não se podia simplesmente substituir um bicho por outro. Era
importante aprender a fazer o luto. E que isso levava o seu tempo.
Como
se sabe, a coisa pequena tem uma relação muito própria com o tempo. Passa
sempre demasiado depressa. Portanto, lá fomos nós ao sítio do costume, mais cedo do que o previsto. A ideia
era comprar outro bicho pequenino, para aproveitar a coisas que tinham ficado
da Belle (caixa, comida, roda, etc.). Avisei-o de que escusava de se pôr com
ideias mirabolantes. Tipo répteis viscosos que comem ratos. Ou chinchilas
saltitonas, a sua mais recente paixão. Decidi jogar pelo seguro e deixar o meu
amor em casa. Bastava-me levar um com queda para o disparate. Claro que nunca pensei deparar-me com um vendedor ultra-eficiente…
Eu:
Olha ali aquele hamster anão tão fofinho, Vasco…
Coisa
pequena: É minúsculo! Gosto mais dos gerbilos.
Vendedor:
Os gerbilos são animais muito engraçados.
Coisa
pequena: São parecidos com as chinchilas, não são?
Eu:
Hum…
Vendedor:
Pois… mas não são tão sensíveis.
Coisa
pequena: Posso ter um gerbilo, mãe? Posso?
Eu:
E quanto tempo vivem, em média?
Vendedor:
Cinco anos.
Eu:
Hum…
Coisa
pequena: Posso, mãe? Posso?
Vendedor:
Olhe que não dão trabalho nenhum. Nem deitam cheiro. Comem muito pouco, quase
não bebem água…
Eu:
Hum…
Coisa
pequena: Posso? Posso?
Eu:
Mas são roedores como os hamsters? É que tivemos uma que dava cabo de gaiola
atrás de gaiola… E que fazia um barulho desgraçado, quando se punha a roer durante
a noite.
Vendedor:
Não, nada disso. O gerbilo é um animal do deserto. Vai adaptar-se aos vossos
horários num instante. Não fazem barulho nenhum à noite.
Eu:
Hum…
Coisa
pequena: Então, posso? Posso?
Eu:
E é um animal amistoso? Pode-se pegar nele?
Vendedor:
Sim, sim… Isto mais parece um gato.
Eu:
Hum…
Coisa
pequena: Posso? Posso? Posso?
Eu:
Está bem, escolhe lá um.
Vendedor:
Não se vai arrepender, minha senhora. É um animal muito engraçado.
Coisa
pequena: Obrigada! És a melhor mãe do mundo! Quero o preto.
Vendedor:
Pois… mas é melhor levar mais um. São animais que vivem em comunidade, sabe?
Morrem de solidão…
Eu:
Hein?! É melhor escolheres outro bicho, Vasco...
Coisa
pequena: Mas tu disseste que sim, mãe! Quero o preto! O preto e o castanho!
Levamos só dois, está bem?
Eu:
Hum... Pronto, está bem.
Vendedor
(já com os dois gerbilos enfiados na caixa de cartão): E gaiola, tem?
Eu:
Tenho a caixa do hamster. Não serve?
Vendedor:
Pois… é melhor, não. É que os gerbilos precisam de saltar. São tipo esquilos. É
preciso mais do que um andar. Estas aqui, são perfeitas… E estão em promoção.
Coisa
pequena: Levamos também a gaiola, não é, mãe? O senhor diz que é melhor...
Eu:
Seja…
Vendedor:
E comida, já tem comida?
Eu:
Tenho a comida que sobrou do hamster. Não serve?
Vendedor:
Servir, serve… mas é melhor misturar com comida própria para gerbilos. Esta
aqui é muito boa…
Eu:
Mas eles comem uma comida especial?!
Coisa
pequena: É melhor levar um saco de comida, mãe... O senhor diz que é preciso.
Eu:
Seja… Pronto, está tudo. Agora vamos embora.
Vendedor:
Só falta a areia…
Eu:
Mas qual areia?! Eu uso pallets e ainda lá tenho um saco cheio!
Vendedor.
Sim, claro. Pode pôr pellets no fundo da gaiola. Mas os gerbilos precisam de
areia para limpar o pêlo. Têm de ter sempre um tupperware cheio com areia limpa. Vou só ali buscar um saco de areia muito em conta...
De
maneiras que é isto… Saímos de lá com uma gaiola de dois andares, comida
especial e um saco de areia minúsculo a um preço proibitivo. Mais a merda dos
gerbilos, feitos histéricos dentro da caixa de cartão. E um prospecto informativo, que se eu tivesse começado logo por ler me
teria refreado o “sim” inicial.
O
que dizer dos gerbilos? Que no caminho de regresso de 15 minutos conseguiram roer
as duas caixas de cartão onde vinham, obrigando-me a conduzir com uma mão no
volante e outra no buraco cada vez maior, arrancando gargalhadas à coisa pequena. Que uma vez chegados a
casa, os soltámos em cima da cama do Vasco e que nos vimos em sérias
dificuldades para os apanhar. Que os gerbilos são uma espécie de bicho
hiperactivo, que não se deixa agarrar nem por nada. Que quando os agarramos à força têm uma espécie de convulsões que aterrorizam qualquer um. Que o nível de
"domesticabilidade" está muito abaixo de zero. Que roem tudo à sua volta e passam a
noite a escavar túneis. Que mordem que se fartam. Resumindo, diz que são gatos... mas estou seriamente desconfiada que me venderam gato por lebre.
Mais valia teres comprado a chinchila... ahahahahahahah.... :P
ResponderEliminarLOL! Não me parece... acho que morria de ataque cardíaco no quarto do Vasco! :)
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