domingo, 1 de março de 2015

O meu pequeno leitor

(e a sua mais recente paixão)


 
O Vasco sempre gostou de livros infantis, mas não era um verdadeiro apaixonado. Até que entrou para a Primária e descobriu a leitura. Percebeu que por trás das letras se escondia um universo infinito de saberes. Tinha cinco anos e meio. Aprendeu a falar e a ler em francês ao mesmo tempo, com uma facilidade espantosa. A escrita demorou mais um bocadinho.

Três anos volvidos, lê com a mesma fluência em francês e português. Livros de histórias e livros sobre História. Ou sobre ciências, mitologia, piratas e animais. Sobre qualquer coisa. Pergunta muitas vezes o significado de alguma palavra mais complicada ou de certos conceitos, porque quer mesmo perceber aquilo que lê. Decora tudo ao mais ínfimo detalhe. Tem livros espalhados um pouco por todo o lado, que vai lendo em diferentes momentos. Há livros na casa de banho e na sala. Na casa de jantar. Há sempre um livro no carro. Durante muitos meses era sobre animais selvagens, agora é sobre múmias. Por vezes, estas leituras parecem-me demasiado complexas para a idade dele, mas nunca interfiro. Em relação à literatura, sou bastante liberal e confio na auto-regulação. Acredito que se dermos livre acesso a todo o tipo de livros, a criança saberá escolher os que melhor se adequam ao seu estádio de desenvolvimento enquanto leitora.

Os livros preferidos do Vasco são, sem dúvida, as bandas desenhadas, muito populares por estes lados. Começou pelos Boule et Bill e pelos Schtroumpfs, bandas desenhadas belgas. Devora Tio Patinhas, tanto em francês como em português. Entretanto, descobriu os Asterix, que lê e relê vezes sem conta. Não gosta do Calvin & Hobbes, nem do Quick et Flupke. Penso que esteja relacionado, no primeiro caso, com a ausência de cor e, no segundo, com a ausência de texto. A coisa pequena é um leitor exigente.

Há pouco tempo, o meu amor decidiu que ele precisava de bandas desenhadas mais sofisticadas e apresentou-lhe o Kid Paddle de Midam. E nunca mais tivemos descanso nesta casa. Passa a vida a contar as aventuras de Kid Paddle, um miúdo mais ou menos da idade dele com uma paixão assolapada por videojogos e filmes de terror, com queda para o disparate. O programa favorito do momento são as leituras encenadas a dois que faz com o meu amor, em que cada um deles encarna uma personagem diferente. Infelizmente têm ambos uma memória prodigiosa e são capazes de reproduzir histórias inteiras nas alturas mais inoportunas. Eu já não posso ouvir falar do Kid Paddle, porque o mais pequeno comentário consegue despoletar estes diálogos intermináveis. Até o Diogo acabou por ser conquistado quando, no outro dia, apanhou um livro perdido no carro e começou a ler, em desespero de causa (o iCoiso estava sem bateria e a minha conversa era claramente secante). Volta e meia, dizia que aquilo era mesmo uma idiotice pagada, mas não conseguia parar de rir...

4 comentários:

  1. É assim que nascem os grandes leitores. E tem toda a razão. Com o passar do tempo, o pequeno “devorador de livros” que tem aí em casa passará a aprimorar o seu gosto e a ser um leitor cada vez mais exigente e erudito. Que bom!

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  2. É tão bom eles gostarem de ler. O meu aprendeu a ler recentemente, quase sozinho, porque quer saber, é um curioso de primeira. Não passa uma noite sem que lhe contemos uma história e isso deixa-me feliz!
    Espero que ele seja como eu que tenho 5/6 livros na mesa de cabeceira para ler...

    Quanto ao Calvin & Hobbes é pena, porque eu acho o máximo!
    E já pensaste em arranjar-lhe a BD da Mafaldinha?! Ou a Turma da Mónica?!

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    1. Até prova em contrário, continuarei a acreditar que bons leitores-pais dão bons leitores-filhos.

      Por aqui, é difícil lutar contra a hegemonia da BD belga, mas a Turma da Mónica é uma excelente ideia, Naná!

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