(independentemente
do estatuto)
No
outro dia, estive à conversa com a nova empregada da limpeza, no meu trabalho.
É uma senhora russa que emigrou há mais de 20 anos. Falámos muito sobre isto de
sermos emigrantes. Da nossa terra. Dos novos começos. De deixar a família para
trás. De trazer os filhos. Dos sacrifícios. Dos novos amores. Falámos da
Bélgica, da nossa vida neste país. Da generosidade típica dos belgas, da
entreajuda. Da simplicidade das pessoas.
Volta
e meia, ela olhava em volta. Abanava a cabeça e sorria. Antes de se ir embora, fez-me
uma festinha na cara. E disse-me, num francês macarrónico: “É bonito, o teu
escritório. E grande! Tens um escritório só teu. Com o teu nome na porta e
tudo. Tens uma linha telefónica. E falas tão bem francês! Mal se nota que és
emigrante. Eu só desconfiei por causa do teu nome. Gosto de ver que a emigração
mudou, nos últimos anos. Os homens já não vão para as obras e as mulheres para
as limpezas. Tu estudaste, és chefe. Podes ter uma vida melhor. Os teus filhos
vão ser alguém. Parabéns!”
Eu
corei e agradeci, mas fiquei sem jeito. Estou farta de pensar que devia ter dito
alguma coisa. Devia ter respondido que não é o estatuto social dos pais que faz
com que os filhos sejam “alguém”. É a educação que lhes damos. Os princípios de
vida que lhes transmitimos. E isso não muda consoante o cargo que ocupamos. O
estatuto profissional é só mais uma roupagem, no meio de tantas outras que nos
envolvem o corpo. Não condiciona em nada aquilo que sou, intrinsecamente. Eu
quero que os meus filhos se tornem “alguém”, sim. Alguém que sabe tratar bem as
pessoas, que gosta de ter uma palavra amável, que consegue ser humilde. Sem
humildade não se aprende nada na vida.
O
Diogo contou-me que ontem deixou a professora substituta de solfejo a chorar,
no seu último dia de aulas. Agradeceu por tudo o que tinha aprendido. Disse que
era um privilégio ter sido aluno dela.
A
vizinha que faz as limpezas na escola do Vasco bateu-me à porta, esta manhã. Trazia
um saco cheio de roupa que já não servia ao filho. Sabe que o Vasco perde muita
roupa, porque anda sempre à volta do “caixote dos perdidos”. E, depois,
disse-me baixinho: “Sabes, todos os dias ele vai dar-me um beijinho. E trata-me
sempre por “Madame Nathalie”.
Os meus pais sempre foram pessoas humildes e foi isso mesmo que me ensinaram... a ser humilde e generosa, porque não interessam as nossas origens, se ricas, se pobres... interessa é aquilo que fazemos por nós próprios e pelos demais :)
ResponderEliminarExacto, Naná. Também acho que a generosidade tem um peso muito importante.
EliminarObrigada, Paula. Não é nada um comentário palerma... ;)
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