(onde se avizinha uma conversa séria sobre a responsabilização)
O
meu amor e eu atribuímos uma importância diferente à responsabilização dos rapazes.
Ele defende a responsabilização preventiva, eu sou apologista da
responsabilização a posteriori. Ou
seja, para o meu amor é essencial que o Diogo e o Vasco aprendam a responsabilizar-se
por fazer certas coisas. Sinceramente, eu preocupo-me menos com o meio para
atingir os fins. O que conta é o resultado final. Acho importante que eles
aprendam a assumir as consequências dos seus actos. Doa a quem doer. Se calhar,
pensando bem, isto vai tudo dar ao mesmo, não sei. Eu exemplifico...
O
meu amor, normalmente, estuda sempre com o Vasco antes dos testes. Faz
exercícios e revisões com bastante tempo de antecedência. Lá está…
responsabiliza-o para a importância do “estudo antecipado”, por assim dizer. Os
resultados escolares da coisa pequena são, como se sabe, excelentes. O problema
é que as sessões de estudo correm sempre bem, mas são precedidas de uma
gritaria infernal. O meu amor avisa a coisa pequena meia hora antes e dá-lhe
tempo para “se passar”, como ele diz. Depois de o Vasco se acalmar, começa finalmente
o estudo. Eles lá se entendem os dois, à maneira deles. Mas esta choradeira
inicial começou seriamente a incomodar-me. Sempre tive pouca paciência para
birras. Acho que são um dispêndio de energia e uma tremenda falta de educação.
Desta
vez, consegui a custo convencer o meu amor a deixar o Vasco gerir o seu próprio plano de
estudos. Esta semana, houve exames. A coisa pequena sabia perfeitamente, porque
duas semanas antes trouxe os cadernos para casa e a professora mandou o planning dos exames. Quando chegava a
casa, no final do dia, cansado de todas as suas actividades, o Vasco preferia
brincar. O estudo era rapidamente despachado. O que eu percebo perfeitamente,
mas ele já está habituado a este sistema de ensino e sabia o que tinha de
fazer. O que era esperado. Pela
primeira vez, decidimos deixar andar. Deixar esticar a corda. Limitei-me a
perguntar-lhe, diariamente, se já tinha estudado tudo o que era preciso para o
exame do dia seguinte. Que sim, senhora. Que era evidente. Que a matéria estava
mais que sabida. Vista e revista, pelo menos três vezes. Aliás, era tudo
facilíssimo. O meu amor não se conseguiu conter e fazia-lhe umas perguntas
rápidas antes de deitar, só para controlar o “facilitismo” da matéria em
questão. As coisas até nem pareciam mal encaminhadas…
Ontem
fui buscar o Vasco mais cedo à escola. Apanhei-o a jogar à bola à chuva. Seguiu
a toque de caixa para o carro, emburrado. Não estranhei o silêncio que se
seguiu. Quando chegou a casa, subiu logo para o quarto e atirou displicente: “Houve
quem tivesse muito piores notas que eu, na minha turma…” Eis a maneira airosa que
a coisa pequena arranjou de anunciar que já tinha começado a receber os
resultados dos exames. E que não eram bons. O Diogo, não sendo nada com ele,
até se encolheu. Sabe bem o quanto detesto a entidade “os outros”. Passo a vida
a dizer que sou mãe destes, não dos outros. Com as más notas dos outros, posso eu bem. Achei melhor nem
olhar já para os testes para não me enervar. Avisei-o que, quando recebesse o
boletim na próxima semana, íamos ter uma conversa séria sobre
responsabilização. Sobre assumir as consequências dos seus actos. E aprender
com os erros. A coisa pequena ficou em pânico. Os meus filhos conhecem-me bem.
Preferem largamente meia dúzia de berros, num ataque de fúria que me passa
depressa, a uma conversa calma em perspectiva. “Por hoje, safas-te…”, concluí. “Não
me safo nada! O Pascal vai querer ver os exames todos, um a um, de uma ponta à
outra!”, respondeu-me o Vasco, desanimado.
Por enquanto, uma coisa parece ser certa... o facto de as teorias educativas serem diferentes, também faz com
que os ralhetes dupliquem.
Eu partilho da tua postura. Dá-se o benefício da dúvida, explica-se as consequências de cada uma das escolhas, que depois têm que ser assumidas.
ResponderEliminarNo entanto, posso só dizer-te que sempre fui muito avessa a estudar?! E depois tirava 17/18 sem me esforçar muito... quando fui para a faculdade, decidi que estava na hora de ganhar juízo e estudar a sério.... pois... passei a ser aluna de 10/12... estudar muito serve mesmo para quê?! O semestre em que tirei melhores notas (de 15 para cima e com direito a um 18) foi o semestre em que menos estudei, em que andei na borga e ia aos aniversários das repúblicas em Coimbra... pois...
A questão não é tanto o estudo, mas a responsabilização pelo estudo. Se estudares muito ou pouco, mas souberes que isso terá consequências que terás de assumir... ;)
EliminarAcho que ouvi algumas frases muito parecidas com essa: “Houve quem tivesse muito piores notas…”
ResponderEliminarExcepto no dramático 1º período do 9º ano, em que, com a mudança de escola, aquilo que se poderia dizer, se fosse preciso (e não era) seria: “houve muita gente que teve notas tão más como as minhas…”. E, de facto, era culpa da escola!
Acho que nunca estudei tanto enquanto estudante, como estudei nesse ano... Mas passaste tu, e muitos desses colegas, contra as pressões da Escola, as ameaças do conselho de turma (docentes), as ameaças da comissão de pais e a indiferença da delegada de curso (que também acabou por passar).
Portanto, leva isso com calma... E, enquanto mãe e professora, nunca te esqueças do teu tempo como aluna. Ok?
Acredita que nunca me esqueço do meu tempo de aluna! :(
ResponderEliminarAliás, o Vasco lá vai levando a sua infância mais ou menos "peculiar" exactamente porque eu não me esqueço da criança que fui. Vou zangar-me porque ele vive no mundo dele, sem noção do tempo? Seria estar a ser hipócrita comigo mesma, não? Eu só insisto para que ele compreenda que há mesmo coisas às quais não podemos escapar. Que por muito que custe, tem de ser responsável pelos seus actos e pelas decisões que tomou. Um bocadinho como aquela tira do Calvin & Hobbes que estava na porta do meu quarto. :)