(por amor de Deus, cobrem-me uma mensalidade
e deixem-me em paz!)
Este
mês foi um fartar de vilanagem. Começou com a venda de lasanhas, para a escola
do Vasco. Diz que é para angariar dinheiro para pagar os ATL da manhã, as sopas
da pré-primária e as “classes vertes”
dos mais crescidos. Tudo gratuito. O facto de o Vasco não usufruir de nenhuma
destas coisas não interessa nada. Também não importa que ninguém coma carne
vermelha nesta casa. Haja espírito comunitário. Um por todos e todos por um,
certo? Portanto, toca a comprar dez lasanhas. O máximo que o meu congelador
comporta. Mas, depois, veio um novo papel para os miúdos venderem mais
lasanhas. Parece que as vendas este ano superaram todas as expectativas e a
escola mandou mais talões de encomenda. O Vasco estava triste, só tinha
conseguido vender dez. Em desespero de causa, lembrei-me de levá-lo para a
minha aula, olhos de Bambi em riste. Expliquei aos meus alunos que sabia que
aquilo não era lá muito ético, mas que diabo… estamos aqui sozinhos, eles são o
mais próximo que tenho de uma família. Fiquei comovida com o entusiasmo com
que aquela malta respondeu ao meu pedido de ajuda. O Vasco angariou quase 150 euros
em lasanhas e até ganhou uma bola de futebol como prémio de vendas.
Pensava
eu que estava despachada até ao próximo mês. Sim, que nesta escola é tudo
gratuito, mas sai-nos do corpo (e do bolso) quase todos os meses. Houve a venda
de sumos de maçã caseiros, a marcha-de-não-sei-o-quê, o pequeno-almoço da
associação de pais, o trabalho no ringue de patinagem… Estou desconfiada que se
pusessem a directora de Saint-Joseph como ministra das Finanças em Portugal, endireitava
as contas do país num ápice.
Dizia
eu que pensava estar despachada até ao próximo mês, mas enganei-me. Faltava o
jantar anual da escola… financiado pelos pais, pois claro. Para angariar
dinheiro para as visitas de estudo. Que me lembre, o Vasco ainda não fez
nenhuma, mas isso não é o mais importante. Paguei uma pequena fortuna por seis almondegas
manhosas para nós os quatro (não sei se já disse que não se
come carne vermelha nesta casa). No final, ainda passámos duas horas a levantar
as mesas. É que, além de pagar para jantar num refeitório com centenas de
criancinhas histéricas a correr à nossa volta, também é suposto os pais
oferecerem-se para ajudar à festa. Das mil e uma propostas na distribuição de
tarefas, escolhi a que me pareceu menos mal. Não me lembrei que íamos ter de
carregar pilhas de loiça no meio das criancinhas histéricas… e já cansadas, no
final do repasto. O Diogo conseguiu partir apenas dois pratos, menos mal.
Com
o mês quase a terminar, pensei que estava livre de mais “angariações de fundos”.
Enganei-me, uma vez mais. Desta vez foi a Académie de Musique. O espectáculo de
ballet do Vasco, no próximo fim-de-semana, é pago. Oito euros para ver o meu
filho dançar. Em Malmedy, para lá do sol-posto. Coisa que ele faz de graça em
casa, se pedirmos com jeitinho e prometermos que não nos rimos. Segundo consta
é para pagar as mensalidades gratuitas para as meninas que vivem na
freguesia da escola que cedeu o espaço para as aulas. Não é o nosso caso, mas temos de ser
uns para os outros. E ainda tenho de comprar base do tom de pele do Vasco. E blush, que nunca usei na vida. Parece
que fica muito pálido em palco com aquelas luzes todas. Vendo as coisas pelo
lado positivo, finalmente há alguém nesta casa que vai usar a minha maquilhagem
antes que seque toda, como de costume.
Sim, já tinha ouvido dizer que este "espírito comunitário em prol da gratuidade" é típico do Norte da Europa, Paula. :)
ResponderEliminarEu cá gosto especialmente da assinatura anual de uma revista que me aparece sempre no fundo da mochila toda amachucada!